29/10/2012

Sobre o que eu acredito de um casamento.

"O casamento (...) é a reunião da díade separada. Originariamente, vocês eram um. Agora são dois, no mundo, mas o casamento é o reconhecimento da identidade espiritual. É diferente de um caso de amor, não tem nada a ver com isso. É outro plano mitológico de experiência. Quando pessoas se casam porque pensam que se trata de um caso amoroso duradouro, divorciam-se logo, porque todos os casos de amor terminam em decepção. Mas o matrimônio é o reconhecimento de uma identidade espiritual. Se levamos uma vida adequada, se a nossa mente manifesta as qualidades certas em relação à pessoa do sexo oposto, encontramos nossa contraparte masculina ou feminina adequada. Desposando a pessoa certa, reconstruímos a imagem do Deus encarnado, e isso é que é a mitologia do casamento. O ritual, que antes representava uma realidade profunda, hoje virou mera formalidade. E isso é verdade nos rituais coletivos assim como nos rituais pessoais, relativos a casamento e religião. Quantas pessoas, antes do casamento, recebem um adequado preparo espiritual sobre o que o casamento significa? Você pode ficar parado diante do juiz e se casar, em dez minutos. A cerimônia de casamento na Índia dura três dias. O par fica grudado! Isso é primordialmente um exercício espiritual, e a sociedade deveria nos ajudar a tomar consciência disso." 
Joseph Campbell in Poder do Mito



"Promete não deixar a paixão fazer de você uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade de seu amado, lembrando sempre que ele não pertence a você, e que está ao seu lado por livre e espontânea vontade? Promete fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não uma via de cobranças por sonhos idealizados que não chegaram a se concretizar?  Promete se deixar conhecer? Promete que será tão você mesmo quanto era minutos antes de entrar na igreja? Então eu os declaro muito mais que marido e mulher; eu os declaro maduros (Mário Quintana).

10/08/2012

Oswaldo Montenegro.

"Procure cantar a todo instanteMais um canto seuQue os outros achem ridículoMais que seja seuDesafinado mais seuCante, sem acompanhamentoNão deve haver nada seguindo seu rastro de poesiaDeixe que ele se propague livre, e voe com eleAté que se torne um serE como você deseja a liberdadeEntão solte o seu cantoEle voará e cantará no espaçoE sabe qual será a canção?Você."


(Foto: Alberto Kirilauskas)


Tom Zé!

"...Mulher - Divino Luxo - Navio Negreiro
Graal - Puro Cristal - Desespero
Rosa-robô - Cachorrinho - Tesouro,
Ninguém suspeita dor neste ideal,
A dor ninguém suspeita imperial..."

09/08/2012

"E serão seguidos por uma multidão de mentes impressionáveis, cuja abordagem ingênua pode constituir um obstáculo inesperado. Coloque seu serviço de comunicação para barrar o acesso dessa gente aos grandes meios de comunicação. Evite que os protestos se espalhem, tornem-se emblemáticos ou alcancem os tribunais administrativos, ou se corre o risco de suspensão das obras.

Uma batalha de números só se trava entre adversários da mesma categoria. Diante de argumentos amadores, invoque o rigor tecnocrático de seus especialistas. Com o ardor dos pioneiros, faça tremular a bandeira do orgulho nacional, até internacional, diante da visão passadista de seus oponentes. Reivindique sua participação sincera e transparente nas consultas públicas."

http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1224

"Quando vieres caçaremos arco-iris..."

02/08/2012

A melhor das definições.- Ntozake Shange.

Here is what I have...
Poems
Big Thighs
Lil tits
&
So much Love.

É isso que tenho...
Poemas
Coxas grossas
Peito pequeno
e
Tanto Amor.

31/07/2012

Mulher Esqueleto II.

"Repetidas vezes observo um fenêmeno em amantes, independente do sexo. Seria mais ou menos assim: duas pessoas começam uma dança para ver se elas vão querer se amar. De repente, a Mulher-Esqueleto é fisgada por acasoAlgo no relacionamento começa a diminuir e cai em entropia. Com frequência, o doloroso prazer da excitação sexual se abranda, um passa a perceber o lado frágil e ferido do outro, ou ainda um deixa ver o outro como "material digno de admiração",e é ai que a velha careca e de dentes amarelos vem à tona.

Parece tão repulsivo, mas esse é o momento perfeito em que se apresenta uma verdadeira oportunidade de demonstrar coragem e de conhecer enfim o amor. Amar significa ficar com. Significa emergir de um mundo de fantasia para um mundo em que o amor duradouro é possível, cara a cara, ossos a ossos, um amor de devoção Amar significa ficar quando cada célula nos manda fugir."

(p.180)

A história da Mulher Esqueleto- Mulheres que correm com lobos.

"A busca moderna pela máquina do movimento perpétuo equivale à busca de uma máquina de amor perpétuo. Não surpreende que as pessoas que tentam amar fiquem confusas e atormentadas e que, como na história dos sapatinhos vermelhos de Hans Christian Andersen, dancem loucamente, incapazes de parar com a agitação frenética, e passem rodopiando direto pelas coisas que, no fundo do coração, elas mais prezam.
Existe, porém, outra maneira, melhor, que leva em consideração as fraquezas, os medos e as singularidades do ser humano.E, como ocorre com tanta frequência nos ciclos da individuação, a maioria de nós simplesmente se depara com ela por acaso."

(Clarissa Pinkola Estés- p.174)

"A brisa reservada deaixo dessas asas a emoção preservada calada debaixo do meu seio...."

"Até que arrebente o saco cheio de Sol..."

22/07/2012

Maravilhosa!

"...Não tenho pai, não tenho mãe
Não tenho filhos
Não tenho irmãs ou irmãos
Não tenho terra, não tenho fé
Não tenho igreja, não tenho Deus
Não tenho amor...
Não tenho por que, sem cigarros
Sem roupas, sem país
Sem classe, sem escolaridade
Sem amigos, sem nada
Não tenho Deus
Não tenho terra, nem água
Nem comida, nem casa
Eu disse que não tenho nenhuma roupa, nem emprego
Não, nada
Não tenho
(...)
E eu não tenho amor
Oh, mas o que eu tenho?
Oh, o que eu tenho?
Deixe-me dizer o que eu tenho
E ninguém vai tirar
A menos que eu queira
Tenho meu cabelo, na minha cabeça
Meu cérebro, meus ouvidos
Meus olhos, meu nariz
E a minha boca, tenho meu sorriso
Minha língua, meu queixo
Meu pescoço, meus seios
Meu coração, minha alma
E minhas costas
Tenho meu sexo
Tenho meus braços, minhas mãos
Meus dedos, minhas pernas
Meus pés, dedos dos pés
E o meu fígado
Tenho o meu sangue
Eu tenho vida, eu tenho vidas
Eu tenho dores de cabeça e dores de dente,
E momentos ruins como você
Tenho meu cabelo, minha cabeça
Meu cérebro, meus ouvidos
Meus olhos, meu nariz e minha boca
Eu tenho o meu sorriso e é o meu sorriso..."

12/07/2012

11/07/2012

Eddie Vedder.

"Eu continuarei curando todas as cicatrizes
Que nós ganhamos desde o começo.
Eu prefiro isso a viver sem você.
Para todo pedido em uma estrela
Que continua sem resposta no escuro,
Há um sonho que sonhei sobre você.
E de longe eu deito acordado.
Fecho meus olhos para encontrar
Que eu não seria o mesmo...."

03/07/2012

Ela Ela Ela... Sophia Andresen.

Um dia

Um dia, gastos, voltaremos
A viver livres como os animais
E mesmo tão cansados floriremos
Irmãos vivos do mar e dos pinhais.
O vento levará os mil cansaços
Dos gestos agitados irreais
E há-de voltar aos nosso membros lassos
A leve rapidez dos animais.
Só então poderemos caminhar
Através do mistério que se embala
No verde dos pinhais na voz do mar
E em nós germinará a sua fala.            

 (Foto: Alberto Kirilauskas)


Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

                

 


01/07/2012

É exatamente isso- Fiona Apple.

"Toda noite é uma luta com o meu cérebro
Eu só quero sentir tudo...
Então vou tentar ficar parada agora
Vou renunciar ao moinho por um tempo e
Se tivéssemos uma cama king size dupla
Poderíamos avançar nela e eu esqueceria logo
Que o que sou é o que sou, porque faço o que faço
E talvez eu relaxe, e deixe meu peito estourar(...)
 
Eu só quero sentir tudo..."





22/06/2012

A maravilhosa Mercedes Sosa.


"...Tantas vezes me apagaramTantas desapareciA meu próprio enterro fuiSozinho e chorandoFiz um nó do lenço,Mas esqueci depoisQue não era a única vezE segui cantando
Cantando ao solComo a cigarraDepois de um anoDebaixo da terraIgual sobreviventeQue volta da guerra..."


18/06/2012

Joseph Campbell.

Dizem que o que todos procuramos é um sentido para a vida. Não penso que seja assim.
Penso que o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos, de modo que nossas experiências de vida, no plano puramente físico, tenham ressonância no interior do nosso ser e da nossa realidade mais íntimos, de modo que realmente sintamos o enlevo de estar vivos.

15/06/2012

Sophia Andresen. Musica: Tom Jobim.

"Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa."


12/06/2012

Krishnamurti diz a raposa e ao doce pequeno principe do Exuperry.

"...Em todo o mundo, certos homens chamados "santos" sempre sustentaram que olhar para uma mulher é pecaminoso; dizem que não podemos nos aproximar-nos de Deus se nos entregamos ao sexo e, por conseguinte, o negam, embora eles próprios se vejam devorados por ele. Mas, negando o sexo, esses homens arrancam os próprios olhos, decepam a própria língua, uma vez que estão negando toda a beleza da Terra. Deixaram famintos os seus corações e a sua mente; são entes humanos "desidratados"; baniram a beleza, porque a beleza está ligada à mulher.
       Pode o amor ser dividido em sagrado e profano, humano e divino, ou só há amor? O amor é para um só e não para muitos? Se digo "Amo-te", isso exclui o amor do outro? O amor é pessoal ou impessoal? Moral ou imoral? Familial ou não familial? Se amais a humanidade, podeis amar o indivíduo? O amor é sentimento? Emoção ? O Amor é prazer e desejo ? Todas essas perguntas indicam - não é verdade? - que temos idéias a respeito do amor, idéias sobre o que ele deve ou não deve ser, um padrão, um código criado pela cultura em que vivemos.
Assim, para examinarmos a questão do amor - o que é o amor - devemos primeiramente libertar-nos das incrustações dos séculos, lançar fora todos os ideais e ideologias sobre o que ele deve ou não deve ser. Dividir qualquer coisa em o que deveria ser e o que é, é a maneira mais ilusória de enfrentar a vida.
          Ora, como iremos saber o que é essa chama que denominamos amor - não a maneira de expressá-lo a outrem, porém o que ele próprio significa? Em primeiro lugar rejeitarei tudo o que a igreja, a sociedade, meus pais e amigos, todas as pessoas e todos os livros disseram a seu respeito, porque desejo descobrir por mim mesmo o que ele é. Eis um problema imenso, que interessa a toda humanidade; há milhares de maneiras de defini-lo e eu próprio me vejo todo enredado neste ou naquele padrão, conforme a coisa que, no momento, me dá gosto ou prazer. Por conseguinte, para compreender o amor, não devo em primeiro lugar libertar-me de minhas inclinações e preconceitos? Vejo-me confuso, dilacerado pelos meus próprios desejos e, assim, digo entre mim: "Primeiro, dissipa a tua confusão. Talvez tenhas possibilidade de descobrir o que é amor através do que ele não é".
           O governo ordena: "Vai e mata, por amor à pátria!" Isso é amor? A religião preceitua: "Abandona o sexo, pelo amor de Deus". Isso é amor? O amor é desejo? Não digas que não. Para a maioria de nós, é; desejo acompanhado de prazer, prazer derivado dos sentidos, pelo apego e o preenchimento sexual. Não sou contrário ao sexo, mas vede o que ele implica. O que o sexo vos dá momentaneamente é o total abandono de vós mesmos, mas, depois, voltais à vossa agitação; por conseguinte, desejais a constante repetição desse estado livre de preocupação, de problema, do "eu". Dizeis que amais vossa esposa. Nesse amor está implicado o prazer sexual, o prazer de terdes uma pessoa em casa para cuidar dos filhos e cozinhar. Dependeis dela; ela vos deu o seu corpo, suas emoções, seus incentivos, um certo sentimento de segurança e bem-estar. Um dia, ela vos abandona; aborrece-se ou foge com outro homem, e eis destruído todo o vosso equilíbrio emocional; essa perturbação, de que não gostais, chama-se ciúme. Nele existe sofrimento, ansiedade, ódio e violência. Por conseguinte, o que realmente estais dizendo é: "Enquanto me pertences, eu te amo; mas, tão logo deixes de pertencer-me, começo a odiar-te. Enquanto posso contar contigo para a satisfação de minhas necessidades sociais e outras, amo-te, mas, tão logo deixes de atender a minhas necessidades, não gosto mais de ti". Há, pois, antagonismo entre ambos, há separação, e quando vos sentis separados um do outro, não há amor. Mas, se puderdes viver com vossa esposa sem que o pensamento crie todos esses estados contraditórios, essas intermináveis contendas dentro de vós mesmo, talvez então - talvez - sabereis o que é o amor. Sereis então completamente livre, e ela também; ao passo que, se dela dependeis para os vossos prazeres, sois seu escravo. Portanto, quando uma pessoa ama, deve haver liberdade - a pessoa deve estar livre, não só da outra, mas também de si própria.
       No estado de pertencer a outro, de ser psicologicamente nutrido por outro, de outro depender - em tudo isso existe sempre, necessariamente, a ansiedade, o medo, o ciúme, a culpa, e enquanto existe medo, não existe amor. A mente que se acha nas garras do sofrimento jamais conhecerá o amor; o sentimentalismo e a emotividade nada, absolutamente nada, têm que ver com o amor. Por conseguinte, o amor nada tem em comum com o prazer e o desejo.
         O amor não é produto de pensamento, que é o passado. O pensamento não pode de modo nenhum cultivar o amor. O amor não se deixa cercar e enredar pelo ciúme; porque o ciúme vem do passado. O amor é sempre o presente ativo. Não é "amarei" ou "amei". Se conheceis o amor, não seguireis ninguém. O amor não obedece. Quando se ama, não há respeito nem desrespeito.
           Não sabeis o que significa amar realmente alguém - amar sem ódio, sem ciúme, sem raiva, sem procurar interferir no que o outro faz ou pensa, sem condenar, sem comparar - não sabeis o que isto significa? Quando há amor, há comparação? Quando amais alguém de todo o coração, com toda a vossa mente, todo o vosso corpo, todo o vosso ser, existe comparação? Quando vos abandonais completamente a esse amor, não existe "o outro".
          O amor tem responsabilidades e deveres, e emprega tais palavras? Quando fazeis alguma coisa por dever, há nisso amor? No dever não há amor. A estrutura do dever, na qual o ente humano se vê aprisionado, o está destruindo. Enquanto sois obrigado a fazer uma coisa, porque é vosso dever fazê-la, não amais a coisa que estais fazendo. Quando há amor, não há dever nem responsabilidade...."

24/05/2012

Meu Livro Amado-Demian, Hermann Hesse.


O que hoje existe não é comunidade: é simplesmente o rebanho.

Os homens se unem porque têm medo uns dos outros e cada um

se refugia entre seus iguais: rebanho de patrões, rebanho de operários,

rebanho de intelectuais... E por que têm medo? Só se tem medo quando

não se está de acordo  consigo mesmo. Têm medo porque jamais se

atreveram a perseguir

seus próprios impulsos interiores. Uma comunidade formada por

indivíduos atemorizados com o desconhecido que levam dentro de si.

Sentem que já periclitaram todas as leis em que baseiam suas vidas,

que vivem conforme mandamentos antiquados e que nem sua religião

nem sua moral são aquelas de que ora necessitamos. Durante cem

anos a Europa não fez mais do que estudar e construir fábricas! Sabem

perfeitamente quantos gramas de pólvora são necessários para se

matar um homem; mas não sabem como se ora a Deus, não sabem

sequer como se pode passar uma hora divertida. Observa qualquer

uma dessas cervejarias estudantis. Ou qualquer dos lugares de

diversão que a gente rica freqüenta! Que espetáculo mais desolador...

De tudo isso não pode redundar nada de bom, meu caro Sinclair. Esses

homens que tão temerosamente se congregam estão cheios de medo e

de maldade, nenhum se fia no outro. Mantêm-se fiéis á ideais que já

não existem, e atacam, furiosos, os que tentam erigir outros novos."

(...)


"Nunca se chega ao porto — disse afavelmente. — Mas quando

duas rotas amigas coincidem, o mundo inteiro nos parece então o

anelado porto."



(...)


"— Você não deve entregar-se a desejos nos quais não acredita. Sei

o que deseja. Você tem que abandonar esses desejos ou desejá-los de

verdade e totalmente. Quando chegar a pedir tendo em si a plena

segurança de alcançar seu desejo, a demanda e a satisfação coincidirão

no mesmo instante. Mas você deseja e se reprova, temeroso de seus

desejos. Tem que dominar tudo isso. Vou lhe contar uma fábula.

E me contou sobre um adolescente que estava enamorado de uma

estrela. Junto ao mar estendia os braços para ela, adorava-a, sonhava

com ela e lhe dedicava todos seus pensamentos. Mas sabia, ou

pensava saber, que um homem não pode enlaçar uma estrela.

Imaginava que seu destino era amá-la sempre sem esperanças e

construiu sobre essa idéia toda uma vida de renúncias e de dores,

muda e fiel, que devia purificá-lo e enobrecê-lo. Uma noite estava de

novo sentado junto ao mar, no alto de uma escarpa, contemplando a amada e ardendo de amor por ela. E num instante de profundo anseio,

saltou no vazio para alcançar a estrela. Mas ainda não pensou na

impossibilidade de alcançá-la e caiu, arrebentando-se contra as rochas.

Não sabia amar. Se no momento de saltar tivesse força de alma

bastante para crer fixa e seguramente na obtenção de seu desejo, teria

voado para o céu a encontrar sua estrela.

— O amor não deve pedir — continuou — nem tampouco exigir.

Há de ter a força de chegar em si mesmo à certeza e então passa a

atrair em vez de ser atraído. Sinclair, seu amor é agora atraído por

mim. Quando chegar a atrair-me, então atenderei. Não quero ser uma

dádiva, mas uma conquista.

Tempos depois contou-me outra história. Era um homem que

amava sem esperanças. Tinha-se encerrado inteiramente em si mesmo

e imaginava que se ia consumindo na chama de seu amor. O mundo

desapareceu para ele. Não via o céu nem o bosque verde; não ouvia o

murmúrio dos regatos nem os sons da harpa; tudo em seu redor se

havia desfeito, deixando-o abandonado e miserável. Seu amor cresceu,

contudo, de tal maneira, que preferiu consumir-se e morrer em sua

fogueira do que renunciar à posse daquela mulher. E então sentiu que

sua paixão devorava em si tudo aquilo que não fosse amor, tornava-se

poderosa e impunha à amada distante uma imperiosa atração, fazendoa correr para si. Mas quando

abriu os braços para recebê-la, achou-a

transformada, e viu e sentiu, surpreendido, que atraíra para si todo o

mundo perdido. Lá eslava o mundo diante dele, ofertando-se por

completo; céu, bosque e regato voltavam a ele com novas cores,

cheios de vida e de luz, pertenciam-no e falavam sua linguagem. E em

vez de ganhar apenas uma mulher, tinha o mundo inteiro em seu

coração e cada uma das estrelas do céu resplandecia nele e irradiava

prazer em toda sua alma... Havia amado, e amando encontrara a si

mesmo. Mas a maioria dos homens amam para se perder em seu amor"



Krishnamurti.


"Vocês dependem para sua espiritualidade de outra pessoa, para sua felicidade, de outra pessoa, para sua iluminação, de outra pessoa... quando digo olhem para dentro de si mesmos para buscar a iluminação, a glória, a purificação e a incorruptibilidade do Eu verdadeiro, nenhum de vocês se dispõe a fazê-lo. Devem existir alguns, mas não muitos. Vocês se acostumaram a que lhes digam até que ponto avançaram, qual é seu status espiritual. Que infantilidade! Quem mais a não ser vocês próprios poderão dizer se são ou não incorruptíveis?"



(Krishnamurti)

O jogo de Amarelinha- Julio Cortazar.


"Toco a tua boca, com um dedo toco o contorno da sua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a sua boca se entreabrisse e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que minha mão escolheu e te desenha no rosto, uma boca eleita entre todas, com soberana liberdade eleita por mim para desenhá-la com minha mão em teu rosto, e que por um acaso, que não procuro compreender, coincide exatamente com a tua boca, que sorri debaixo daquela que a minha te desenha



Me olhas de perto, de perto me olhas, cada vez mais de perto e, então brincamos de ciclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam uns dos outros, sobrepõe-se, e os ciclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem, com um perfume antigo e um grande silêncio. Então as minhas mãos procuram afogar-se nos teus cabelos, acariciar lentamente a profundidade do teu cabelo, enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragrância obscura. E, se nos mordemos, a dor é doce; e,se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu te sinto tremular contra mim, como uma lua na água."

Para atravessar contigo o deserto do mundo - Sophia Andresen. ( Para Peras e Maças)



Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento.