“O
que hoje existe não é comunidade: é simplesmente o rebanho.
Os homens se unem porque têm medo uns
dos outros e cada um
se refugia entre seus iguais: rebanho de patrões,
rebanho de operários,
rebanho de intelectuais... E por que têm medo? Só
se tem medo quando
não se está de acordo consigo mesmo. Têm medo porque jamais se
atreveram
a perseguir
seus
próprios impulsos interiores. Uma comunidade formada por
indivíduos
atemorizados com o desconhecido que levam dentro de si.
Sentem
que já periclitaram todas as leis em que baseiam suas vidas,
que
vivem conforme mandamentos antiquados e que nem sua religião
nem
sua moral são aquelas de que ora necessitamos. Durante cem
anos
a Europa não fez mais do que estudar e construir fábricas! Sabem
perfeitamente
quantos gramas de pólvora são necessários para se
matar
um homem; mas não sabem como se ora a Deus, não sabem
sequer
como se pode passar uma hora divertida. Observa qualquer
uma
dessas cervejarias estudantis. Ou qualquer dos lugares de
diversão
que a gente rica freqüenta! Que espetáculo mais desolador...
De
tudo isso não pode redundar nada de bom, meu caro Sinclair. Esses
homens
que tão temerosamente se congregam estão cheios de medo e
de
maldade, nenhum se fia no outro. Mantêm-se fiéis á ideais que já
não
existem, e atacam, furiosos, os que tentam erigir outros novos."
(...)
duas
rotas amigas coincidem, o mundo inteiro nos parece então o
anelado
porto."
(...)
o
que deseja. Você tem que abandonar esses desejos ou desejá-los de
verdade
e totalmente. Quando chegar a pedir tendo em si a plena
segurança
de alcançar seu desejo, a demanda e a satisfação coincidirão
no
mesmo instante. Mas você deseja e se reprova, temeroso de seus
desejos.
Tem que dominar tudo isso. Vou lhe contar uma fábula.
E
me contou sobre um adolescente que estava enamorado de uma
estrela.
Junto ao mar estendia os braços para ela, adorava-a, sonhava
com
ela e lhe dedicava todos seus pensamentos. Mas sabia, ou
pensava
saber, que um homem não pode enlaçar uma estrela.
Imaginava
que seu destino era amá-la sempre sem esperanças e
construiu
sobre essa idéia toda uma vida de renúncias e de dores,
muda
e fiel, que devia purificá-lo e enobrecê-lo. Uma noite estava de
novo
sentado junto ao mar, no alto de uma escarpa, contemplando a amada e ardendo de
amor por ela. E num instante de profundo anseio,
saltou
no vazio para alcançar a estrela. Mas ainda não pensou na
impossibilidade
de alcançá-la e caiu, arrebentando-se contra as rochas.
Não
sabia amar. Se no momento de saltar tivesse força de alma
bastante
para crer fixa e seguramente na obtenção de seu desejo, teria
voado
para o céu a encontrar sua estrela.
—
O amor não deve pedir — continuou — nem tampouco exigir.
Há
de ter a força de chegar em si mesmo à certeza e então passa a
atrair
em vez de ser atraído. Sinclair, seu amor é agora atraído por
mim.
Quando chegar a atrair-me, então atenderei. Não quero ser uma
dádiva,
mas uma conquista.
Tempos
depois contou-me outra história. Era um homem que
amava
sem esperanças. Tinha-se encerrado inteiramente em si mesmo
e
imaginava que se ia consumindo na chama de seu amor. O mundo
desapareceu
para ele. Não via o céu nem o bosque verde; não ouvia o
murmúrio
dos regatos nem os sons da harpa; tudo em seu redor se
havia
desfeito, deixando-o abandonado e miserável. Seu amor cresceu,
contudo,
de tal maneira, que preferiu consumir-se e morrer em sua
fogueira
do que renunciar à posse daquela mulher. E então sentiu que
sua
paixão devorava em si tudo aquilo que não fosse amor, tornava-se
poderosa
e impunha à amada distante uma imperiosa atração, fazendoa correr para si. Mas
quando
abriu os braços para recebê-la, achou-a
transformada,
e viu e sentiu, surpreendido, que atraíra para si todo o
mundo
perdido. Lá eslava o mundo diante dele, ofertando-se por
completo;
céu, bosque e regato voltavam a ele com novas cores,
cheios
de vida e de luz, pertenciam-no e falavam sua linguagem. E em
vez
de ganhar apenas uma mulher, tinha o mundo inteiro em seu
coração
e cada uma das estrelas do céu resplandecia nele e irradiava
prazer
em toda sua alma... Havia amado, e amando encontrara a si
mesmo.
Mas a maioria dos homens amam para se perder em seu amor"
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